“A estrela do FC Porto é a mentalidade da equipa” diz adjunto do Liverpool

Pepijn Lijnders

Pepijn Lijnders, adjunto de Jurgen Klopp, trabalhou sete anos nos dragões, conhece o carácter do FC Porto e a forma como esta cresce nas dificuldades, e explica tudo a O JOGO.

Chegou à Invicta em 2007 para desenvolver as aptidões dos jovens da formação portista e moldou craques como Rúben Neves ou André Silva. O Liverpool “roubou-o” em 2014, ainda com Brendan Rodgers. Klopp identificou-se com ele e recuperou-o para número 2 quando perdeu o seu habitual assistente. Agora, defronta o FC Porto e recebeu O JOGO em Melwood, centro de treinos do Liverpool.

Onde estava Pepijn Lijnders quando o sorteio da UEFA ditou o FC Porto ao Liverpool?

Na sala de refeições do centro de treinos, com a equipa técnica a ver o sorteio. Quando saiu o FC Porto… Uau!

Uau? Foi a sua primeira palavra?

Não foi uma palavra, nem um pensamento, foi um aperto no estômago. Trabalhei sete anos no FC Porto e volto agora como adjunto do Liverpool, nos quartos de final da Liga dos Campeões… E voltar ao Dragão… Uau!

Portanto, não podia ter corrido melhor.

Em termos desportivos, só a eliminatória o irá dizer. Em termos pessoais, não. Não há muitos clubes na Europa com tanta mística, história, tradição, cultura e ambiente como o FC Porto, mas definitivamente o Liverpool é um deles. É com orgulho e humildade que vou competir contra a minha antiga equipa. Serei sempre portista.

Sete anos num clube fazem de qualquer um adepto?

O FC Porto teve um impacto muito grande em mim como treinador, mas mais ainda como pessoa. Falarei sempre do clube com grande orgulho e responsabilidade. Se há clube que criou a sua própria história nos últimos 30 anos, foi, sem dúvida, o FC Porto. Pinto da Costa criou uma instituição vencedora. O clube não parou de investir e foi sempre forçado a reinventar-se sem tocar na mentalidade Porto.

Esta equipa de Sérgio Conceição tem mentalidade Porto?

Tem. Acredito que o carácter do treinador faz o carácter da equipa. E Sérgio tem muito que se espelha na equipa, embora não o conheça. Mas, pelo que vejo, a forma como os jogadores são compactos, agressivos, pressionam, jogam 90 minutos sem quebras, sem parar… Eles querem sempre dominar!

Os adversários anteriores do FC Porto na Champions elogiaram os africanos do ataque.

E Corona e Otávio e aquela qualidade individual que os dois dão? Marega usa muito bem o espaço nas costas, é forte fisicamente, Tiquinho também. A equipa funciona muito bem junta.

Se pudesse escolher um para somar ao Liverpool, quem seria?

Para a Premier League trazia todos. Para o Liverpool não posso dizer [risos].

Já conhecia Éder Militão antes do FC Porto?

Claro. Tem grande potencial como central; é de topo europeu. A lateral também é competente.

Quem é o jogador mais importante do FC Porto?

A estrela é a mentalidade da equipa.

Os treinadores costumam falar do coletivo para não tocar em nomes. Fazemos a pergunta de forma diferente. Quem tem mais potencial?

Sem bons jogadores não há coletivo, mas sem coletivo não há sucesso. O FC Porto tem jogadores interessantes, habilidosos, como por exemplo Alex Telles, um lateral muito ofensivo, com velocidade e cruzamento; Militão é de topo europeu; Danilo e Herrera são muito fortes. Corona e Otávio, Brahimi, Marega e Óliver… Mas não há uma estrela.

Já teremos tempo para falar sobre a sua experiência em Portugal, mas o Liverpool-FC Porto é amanhã. Já identificaram os pontos mais fortes e mais fracos desta equipa?

É uma equipa muito lutadora, agressiva e compacta, que sabe mudar os momentos do jogo. Tem uma grande mistura de talento, mas uma identidade muito clara. Pode criar problemas de diferentes formas. Eu sei como o FC Porto pensa. Eles amam os que detestam perder, têm a cultura de lutar contra tudo e contra todos. E adoram a possibilidade de nos ganhar. Sérgio vai usar o resultado do ano passado para motivar a equipa. A adversidade faz do FC Porto mais forte, mais rápido e mais cirúrgico. A equipa é idêntica à do ano passado, com contratações muito específicas, como a do talento inacreditável que é Militão e a experiência incrível de Pepe. Muitas equipas queriam evitar-nos. Provavelmente só o FC Porto adoraria defrontar-nos.

No ano passado, não estava quando se jogou a eliminatória. Como assistiu de fora aos 0-5 no Dragão?

Estava a comentar para um canal holandês. Foi um excelente exemplo de duas equipas similares em muita coisa, ambas muito intensas. Mas o Liverpool foi cirúrgico nos momentos certos. Lembro-me de ver o Sadio Mané a defender junto ao segundo poste e, 30 segundos depois, estar a fazer golo na outra baliza.

“Estamos a competir contra nós”
A luta renhida com o Manchester City faz o Liverpool sonhar com a conquista de um campeonato que lhe escapa desde 1989/90. Mas será possível dar preferência à Premier League em detrimento da Liga dos Campeões?

“É impossível escolher”, garante Pepijn Lijnders. “A pressão é cada vez maior, mas nós continuamos a competir contra nós próprios, para sermos cada vez melhores, pressionar cada vez mais, jogar cada vez melhor, mantermos a boa forma, continuar a treinar bem. Nesta fase o medo pode chegar muito depressa e a única forma de o combater é estar bem e isso vem do treino e da atitude”, explica o holandês.

Treinador adjunto dos reds defende que, por vezes, cinco minutos de conversa são mais importantes do que cinco dias a treinar. Esta também é a filosofia de uma equipa “feliz e que não abdica de nada”. Chegou ao Liverpool a convite do presidente Michael Gordon, encantado com uma palestra que ouviu sobre formação. Subiu à primeira equipa com Brendan Rodgers, transitou para a equipa técnica de Jurgen Klopp e a ligação foi imediata. Um problema pessoal devolveu-o à Holanda, mas quando o alemão perdeu o número 2, ligou-lhe e Pepijn não hesitou. A época tem sido um sonho.

Colocam muita responsabilidade nos três avançados fortíssimos que possuem?

Não. Em determinados momentos, todos os nossos jogadores são avançados. Os defesas não se podem ver apenas como tal, porque às vezes, ao pressionarem o adversário, são os primeiros a atacar.

Além desse trio, há uma série de jogadores que não vemos a jogar a um nível elevado em mais nenhuma equipa de topo?

O Jurgen tem habilidade para melhorar as equipas, para os fazer acreditar que podem ser melhores. Nós acreditamos que se aproveitarem todos os treinos, todos os dias, esses jogadores podem ser puxados para um nível superior. Nesta equipa todos se sentem realmente livres.

A identificação com Jurgen Klopp foi imediata?

Desde o primeiro segundo. Comecei como treinador de campo e fui mostrando que, além de treinar, podia liderar. Quando me desafiou a voltar e explicou porquê, fiquei 100% convencido. A responsabilidade de ser o número 2 era entusiasmante, porque eu também iria ajudar a liderar.

Klopp é do tipo de treinador que partilha muito?

Sim. Ele tem as suas ideias e essas são as mesmas que uso para organizar o treino. Temos ideias muito iguais. Eu não poderia fazer este trabalho com mais ninguém.

Como o define?

É inspirador. Pode mudar o moral dos jogadores em cinco minutos com o que diz. Às vezes são mais importante e cinco minutos a falar do que cinco dias a treinar.

O Liverpool parece uma equipa feliz?

E é. Se não sorrirmos, a bola não vai sorrir. Nós desfrutamos da forma como treinamos e jogamos, acreditamos nisso e tentamos ser o melhor que podemos ser.

Van Dijk custou perto de 80 milhões de euros. É o melhor central do mundo?

Não se pode avaliar os centrais de forma isolada, mas como dupla. Van Dijk funciona porque tem a ajuda de Matic, Lovren ou Gómez. Virgil dá-nos a possibilidade de sermos mais agressivos e não entra em pânico. Escolhemos muito bem os jogadores. Têm de ter talento, ambição e paixão pelo treino. Também promovemos da academia.

Como Alexander-Arnold…

Foi meu capitão na formação, como Rúben Neves era no FC Porto. Joguei três vezes contra Rúben Neves em Inglaterra e o farol estava lá. Foi sempre quem controla o jogo, quem o distribui.

Foi verdade que pensaram em Rúben Neves para o Liverpool?

[Risos] Conheço-o muito bem, a sua ambição, a sua paixão pelo jogo, o seu profissionalismo… Sei o que ele dá à equipa e este tipo de jogadores interessam-nos sempre. Reconheci-o quando o vi no Wolves. Vi a técnica, o profissionalismo; vi o jogador de 13/14 anos que conhecia.

Falou com ele no final?

Sim, foi um momento especial. É um homem, tem esposa, um bebé… É bom rever os meus miúdos.

Fonte: O Jogo

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